Antes
de tudo, eu gostaria de pedir aos leitores desse post que mantenham
suas mentes abertas, deferentemente de tantas pessoas que eu conheço.
Eu vou falar de uma coisa que se torna cada vez mais popular entre os
adolescentes: Fanfiction.
Pra
quem não sabe, fanfiction são histórias que fãs de determinado
artista criam sobre ele ou pensando nele (Fan = Fã; Fiction =
Ficção. Também pode ser abreviado para fanfic ou apenas
fic). As histórias vão do mais clichê “fui pra Londres em
um intercâmbio, conheci meu ídolo e nos casamos” até os mais
inusitados textos onde há mortes, gravidez e assuntos mais pesados.
Uma das vertentes das fanfics é a minha tão amada e adorada
realidade alternativa (ou universo alternativo). Isso torna a fanfic
qualquer tipo de história que você quiser: suspense, drama,
fantasia, aventura... Há de tudo um pouco e apenas o nome dos
artistas é preservado, quando é. Porque com o nascimento das
fanfics interativas, você lê a história com os nomes que bem
entender. Isso sem dúvida é algo que me chamou atenção para esse
universo.
Eu,
assim como muitas pessoas que escrevem e leem fanfics, já sofri
preconceitos explícitos por causa de gente ignorante que não sabe
que uma fanfic pode ser como qualquer outra história. Há realmente
autores (sim, porque não são só meninas que escrevem fanfics!)
talentosíssimos escrevendo fanfics e até dando um passo mais a
fundo na paixão pela escrita. Por exemplo, Holy Fool é uma
fanfic que eu considero uma das mais bem boladas que já li na vida
além de um dos melhores textos com os quais já me deparei e está
sendo reescrita para se tornar um livro. E outra que já é bem
conhecida de todos agora se exibe nas prateleiras de todas as
livrarias do país. 50 Tons de Cinza não é minha obra literária
favorita (não entra nem entre os cem primeiros), mas é um exemplo
de como um autor de sucesso pode sair de um site de fanfics. Pessoas
que leem e escrevem esse tipo de texto são julgadas como burras, sem
talento, infantis e tantos outros nomes injustamente, já que o
talento pode estar em qualquer lugar.
“Os
cabelos longos e os shorts curtos com meia-calça arrastão e All
Stars detonados passavam uma clara mensagem: encrenqueira.
Caminhando pelos corredores com seus fones de ouvidos e pose de
rainha, Amellie não era nada do que as pessoas costumavam
rotular. Encrenqueira, prostituta, vaca, mal-amada. Amellie
era somente o reflexo de anos difíceis escondidos sobre quilos de
máscara para cílios preta. Sua história, na verdade, era muito
simples, muito clichê. A garota que perdeu os pais aos 5 anos, foi
adotada aos 8 e era incompreendida aos 17. Uma história que você
consegue encontrar em qualquer lugar. Mas, naquela pequena, gelada e
conservadora cidade, ela era uma rebelde. Uma rebelde sem drogas, com
boatos sobre sexo e muito rock’n’roll.”
Trecho
de Holy Fool, fanfic que inspirou o livro Carpe Noctem.
As
mesmas pessoas que julgam quem lê fanfics podem ser encontradas
condenando autores como Thalita Rebolças e Pedro Bandeira, mas
acredito que não passe pela cabeça de tais críticos a importância
de autores infanto-juvenis e infantis. Queridos dotados leitores de
Dostoievsky e amantes de Shakespeare, queiram fazer o favor de
colocar a mão na consciência e se lembrar do primeiro livro que
leram. Não foi Noite de Reis e garanto que o exemplar não era nem
de longe um estudo detalhado da condição humana. Não era Machado
de Assis e nem Nelson Rodrigues. Era um livro simplório, mas que te
chamou a atenção por algum motivo. E me arrisco até a dizer que o
motivo foi que o tal livro falava da sua realidade ou de uma
realidade que você gostaria de atingir. Assim agem os livros
pré-adolescentes de Thalita Rebolças que chamam mais e mais jovens
ao mundo da leitura todos os anos. Eu não tenho vergonha de dizer
que o primeiro livro que li inteiro na vida foi Tudo Por Um Popstar e
ele me abriu portas para todo tipo de leitura que eu já conheci até
hoje. E Pedro Bandeira, com sua narrativa aventureira que roubou
tantas noites quanto possível da minha infância com sua coleção
clássica Os Karas, é até hoje um de meus autores favoritos. E tudo
que esse homem rabiscar eu vou querer ler, mesmo já tendo passado da
minha época, digamos assim. E não são apenas esses que sofrem
preconceitos. Nicholas Sparks sofre preconceito por ter histórias de
amor açucaradas e movidas pela dor de suas tragédias que caem no
gosto popular. Stephanie Mayer é julgada por cair no clichê
apaixonante de Romeu e Julieta. Dan Brown é chamado de mentiroso por
apimentar as histórias com fatos que até o próprio admite serem
errôneos de vez em quando. E onde houver nomes haverá pessoas
tentando apaga-los, não importa o que aconteça. As mesmas pessoas
que apoiam o preconceito literário. As mesmas pessoas que julgam
amantes de fanfics.
Eu
sonhei com o dia em que estaria no hospital e poderia segurá-lo em
meus braços. Suas mãozinhas tão pequenas que caberiam dentro das
minhas. Seus olhinhos pequenos, ainda fechados, prontos para conhecer
um mundo inteiro. Eu iria amamentá-lo e abraçá-lo, sempre
deixando-o aquecido e protegido. Eu jamais deixaria algo de ruim
acontecer com ele. Jamais. Eu o colocaria para dormir na minha cama
nos primeiros dias em casa e ficaria ao seu lado, apenas cuidando de
seus sonhos, admirando meu pequenino enquanto ele respirava
calmamente. Eu o levaria para passear todos os dias. Quando estivesse
maior, deixaria que brincasse no gramado. Eu daria tudo de mim para
ser a melhor mãe possível.
Mas
isso seria apenas um sonho.
Trecho
da fanfic Small Bump.
Pessoas
como eu e você que apenas buscamos um momento agradável de leitura,
talvez adolescentes entrando nesse mundo agora e começando a se
interessar por fanfics, quase prontos para saltos maiores, têm que
aguentar a hostilidade de quem tem preconceito com algo que nem ao
menos conhece e nem faz questão de conhecer. Isso tem um único e
simples nome: ignorância. Isso é para você cultíssimo fã número
um das obras de Carl Max. Aquele que fala do que não sabe e ainda
trata com maldade quem apenas procura por novos textos e estilos não
pode ser classificado como nada menos que um ignorante completo.
Então apenas lhe peço que mantenha a mente aberta e que pense duas
vezes na próxima vez que quiser ridicularizar alguém por causa do
estilo de texto que lê/escreve, da roupa que veste ou da cor do
cabelo. Hoje você ri de quem não merece ser motivo de piada, amanhã
é você que chora no travesseiro se perguntando o que você fez para
ser tratado por tudo e todos com um ignorante de marca maior.
*
A música do título é Everybody Talks do Neon Trees.