domingo, julho 21, 2013

All You’re Giving Me Is Fiction

Antes de tudo, eu gostaria de pedir aos leitores desse post que mantenham suas mentes abertas, deferentemente de tantas pessoas que eu conheço. Eu vou falar de uma coisa que se torna cada vez mais popular entre os adolescentes: Fanfiction.

Pra quem não sabe, fanfiction são histórias que fãs de determinado artista criam sobre ele ou pensando nele (Fan = Fã; Fiction = Ficção. Também pode ser abreviado para fanfic ou apenas fic). As histórias vão do mais clichê “fui pra Londres em um intercâmbio, conheci meu ídolo e nos casamos” até os mais inusitados textos onde há mortes, gravidez e assuntos mais pesados. Uma das vertentes das fanfics é a minha tão amada e adorada realidade alternativa (ou universo alternativo). Isso torna a fanfic qualquer tipo de história que você quiser: suspense, drama, fantasia, aventura... Há de tudo um pouco e apenas o nome dos artistas é preservado, quando é. Porque com o nascimento das fanfics interativas, você lê a história com os nomes que bem entender. Isso sem dúvida é algo que me chamou atenção para esse universo.

Eu, assim como muitas pessoas que escrevem e leem fanfics, já sofri preconceitos explícitos por causa de gente ignorante que não sabe que uma fanfic pode ser como qualquer outra história. Há realmente autores (sim, porque não são só meninas que escrevem fanfics!) talentosíssimos escrevendo fanfics e até dando um passo mais a fundo na paixão pela escrita. Por exemplo, Holy Fool é uma fanfic que eu considero uma das mais bem boladas que já li na vida além de um dos melhores textos com os quais já me deparei e está sendo reescrita para se tornar um livro. E outra que já é bem conhecida de todos agora se exibe nas prateleiras de todas as livrarias do país. 50 Tons de Cinza não é minha obra literária favorita (não entra nem entre os cem primeiros), mas é um exemplo de como um autor de sucesso pode sair de um site de fanfics. Pessoas que leem e escrevem esse tipo de texto são julgadas como burras, sem talento, infantis e tantos outros nomes injustamente, já que o talento pode estar em qualquer lugar.

Os cabelos longos e os shorts curtos com meia-calça arrastão e All Stars detonados passavam uma clara mensagem: encrenqueira. Caminhando pelos corredores com seus fones de ouvidos e pose de rainha, Amellie não era nada do que as pessoas costumavam rotular. Encrenqueira, prostituta, vaca, mal-amada. Amellie era somente o reflexo de anos difíceis escondidos sobre quilos de máscara para cílios preta. Sua história, na verdade, era muito simples, muito clichê. A garota que perdeu os pais aos 5 anos, foi adotada aos 8 e era incompreendida aos 17. Uma história que você consegue encontrar em qualquer lugar. Mas, naquela pequena, gelada e conservadora cidade, ela era uma rebelde. Uma rebelde sem drogas, com boatos sobre sexo e muito rock’n’roll.”
Trecho de Holy Fool, fanfic que inspirou o livro Carpe Noctem.

As mesmas pessoas que julgam quem lê fanfics podem ser encontradas condenando autores como Thalita Rebolças e Pedro Bandeira, mas acredito que não passe pela cabeça de tais críticos a importância de autores infanto-juvenis e infantis. Queridos dotados leitores de Dostoievsky e amantes de Shakespeare, queiram fazer o favor de colocar a mão na consciência e se lembrar do primeiro livro que leram. Não foi Noite de Reis e garanto que o exemplar não era nem de longe um estudo detalhado da condição humana. Não era Machado de Assis e nem Nelson Rodrigues. Era um livro simplório, mas que te chamou a atenção por algum motivo. E me arrisco até a dizer que o motivo foi que o tal livro falava da sua realidade ou de uma realidade que você gostaria de atingir. Assim agem os livros pré-adolescentes de Thalita Rebolças que chamam mais e mais jovens ao mundo da leitura todos os anos. Eu não tenho vergonha de dizer que o primeiro livro que li inteiro na vida foi Tudo Por Um Popstar e ele me abriu portas para todo tipo de leitura que eu já conheci até hoje. E Pedro Bandeira, com sua narrativa aventureira que roubou tantas noites quanto possível da minha infância com sua coleção clássica Os Karas, é até hoje um de meus autores favoritos. E tudo que esse homem rabiscar eu vou querer ler, mesmo já tendo passado da minha época, digamos assim. E não são apenas esses que sofrem preconceitos. Nicholas Sparks sofre preconceito por ter histórias de amor açucaradas e movidas pela dor de suas tragédias que caem no gosto popular. Stephanie Mayer é julgada por cair no clichê apaixonante de Romeu e Julieta. Dan Brown é chamado de mentiroso por apimentar as histórias com fatos que até o próprio admite serem errôneos de vez em quando. E onde houver nomes haverá pessoas tentando apaga-los, não importa o que aconteça. As mesmas pessoas que apoiam o preconceito literário. As mesmas pessoas que julgam amantes de fanfics.

Eu sonhei com o dia em que estaria no hospital e poderia segurá-lo em meus braços. Suas mãozinhas tão pequenas que caberiam dentro das minhas. Seus olhinhos pequenos, ainda fechados, prontos para conhecer um mundo inteiro. Eu iria amamentá-lo e abraçá-lo, sempre deixando-o aquecido e protegido. Eu jamais deixaria algo de ruim acontecer com ele. Jamais. Eu o colocaria para dormir na minha cama nos primeiros dias em casa e ficaria ao seu lado, apenas cuidando de seus sonhos, admirando meu pequenino enquanto ele respirava calmamente. Eu o levaria para passear todos os dias. Quando estivesse maior, deixaria que brincasse no gramado. Eu daria tudo de mim para ser a melhor mãe possível.
Mas isso seria apenas um sonho.
Trecho da fanfic Small Bump.

Pessoas como eu e você que apenas buscamos um momento agradável de leitura, talvez adolescentes entrando nesse mundo agora e começando a se interessar por fanfics, quase prontos para saltos maiores, têm que aguentar a hostilidade de quem tem preconceito com algo que nem ao menos conhece e nem faz questão de conhecer. Isso tem um único e simples nome: ignorância. Isso é para você cultíssimo fã número um das obras de Carl Max. Aquele que fala do que não sabe e ainda trata com maldade quem apenas procura por novos textos e estilos não pode ser classificado como nada menos que um ignorante completo. Então apenas lhe peço que mantenha a mente aberta e que pense duas vezes na próxima vez que quiser ridicularizar alguém por causa do estilo de texto que lê/escreve, da roupa que veste ou da cor do cabelo. Hoje você ri de quem não merece ser motivo de piada, amanhã é você que chora no travesseiro se perguntando o que você fez para ser tratado por tudo e todos com um ignorante de marca maior.


* A música do título é Everybody Talks do Neon Trees.

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